Como um cão perdido me trouxe de volta às redes sociais

Eu estava desde Março de 2018 sem usar ativamente as redes sociais. Nada de posts no facebook, instagram: nada! No máximo uma olhadinha (de um minuto nos stories do insta) mas não publicava nada. Explico: em Março de 2018 eu tirei férias e passei uma semana em Nova York e lá eu assisti apenas notícias locais. Foi a época que estavam bem fortes as notícias da interferência de empresas e outros governos nas eleições americanas através das redes sociais, lembram? Pois podem até lembrar, mas não tão fortemente como o pessoal por lá, que tiveram uma cobertura bem mais forte sobre o assunto do que a cobertura brasileira.


C&F

Explicando por alto: alegou-se que a empresa Cambridge Analytica encontrou uma brecha no Facebook para coletar dados de usuários e criar listas de prospecção para “vender candidatos” ou “vilanizar candidatos adversários”. Para quem quiser ou tiver curiosidade, vale a pena recapitular o caso do Facebook e a Cambridge Analytica.

 

Fora isso ela conseguiu criar na timeline incentivos e interferências de forma a públicos alvos serem impactados com o conteúdo que ela achava interessante para influenciar em prol deste ou contra aquele candidato. Misture-se a isso ao filho do Trump entrando em contato com o governo russo para coletar informações sobre a Hillary. Situação digna de filmes dos mais conspiratórios possíveis, uma mistura de “Inimigo do Estado” com “House of Cards” e um desfecho com “Deby & Loyde” governando duas grandes nações no mundo.

O resultado das investigações acabou sendo nenhum: passaram-se mais de doze meses e só foi concluído que não foi possível comprovar que o Trump interferiu junto com a Rússia nas eleições americanas. Reitero: “não conseguir provar a interferência” é diferente de “provar que não houve interferência”.

Esse é o grande motivo de eu ter me afastado do facebook: o fato de nosso comportamento na rede virar um commodity e a rede propriamente dita conseguir nos influenciar mais do que qualquer outro meio de comunicação! Além é claro do mi-mi-mi que virou essa rede (ou o mundo inteiro). Não se sabe mais discordar sem rotular, xingar ou até ameçar. Qualquer opinião diferente vira briga, afasta amigos e até familiares, enquanto os políticos riem da cara do povo e continuam tentando fazer a massa acreditar que o mundo pode ser explicado pela dicotomia simplista da esquerda versus direita.

Mas esse era o motivo de eu estar ausente. Eu queria explicar por que é que eu voltei!!


Era feriado e eu tava voltando pra casa depois do almoço com a família e a minha esposa viu um cachorro NO MEIO da rua, visivelmente perdido e prestes a ser atropelado. Um pessoal no barzinho da rua disse que ele estava vagando pela rua desde o dia anterior!

Animal Rescue - https://shop.nationalgeographic.com/products/rocky-mountain-animal-rescue
Animal Rescue – https://shop.nationalgeographic.com/products/rocky-mountain-animal-rescue

Quando eu via esses programas de resgate de cachorro achava impossível resgatar um bicho assim. Não era pra mim, “impossível resgatar um bicho arisco, com fome, sede” eu pensava. Mas eu consegui resgatar o bicho e foi mais fácil do que eu pensava. Corri em casa, busquei uma garrafa d’água, ração e uma guia. Quando voltei pra rua ele não estava longe, mas continuava arisco: mordeu um catador de lixo que tentou pegá-lo da forma indevida: no susto, gritando. Assim até eu assustaria! Mas eu fui me aproximando devagar, oferecendo comida e água e ele veio. O bicho estava com muita sede, tadinho!

O cachorro estava de coleira, mas sem identificação! A minha esperança era que tivesse nome/telefone de donos e aí agente acharia facilmente os donos do bicho, mas sem os contatos foi impossível achar donos!

Então eu resolvi dar uma volta no bairro com ele perguntando às pessoas se elas conheciam o cachorro. Passei a tarde inteira tentando encontrar os donos dele rodando pelo bairro, uma vez que eu não poderia levar o dog para casa – ele não é castrado, e nem o Biscoito, de forma que o conflito territorial seria certeiro. O passeio rendeu a amizade com o Deley, um vizinho na rua detrás de casa que se prontificou a abrigá-lo enquanto não achássemos os donos.

Quando avistamos o dog, até então sem nome, eram por volta de 14h e eu só voltei pra casa umas 20h, depois de me certificar que ele estava (provisoriamente) abrigado, com ração e que eu tinha esgotado todas as possibilidades de encontrar os donos dele naquele dia. Quem tem cachorro sabe que eles fazem parte da família, e eu passei o dia todo pensando como eu me sentiria se fosse o Biscoito, o meu cachorro a ter desaparecido.

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A primeira foto do story do insta

Durante o dia eu tirei fotos dele e compartilhei nos grupos de Whastapp que faço parte e pensei que para que o maior número de pessoas visse a informação do cachorro perdido eu precisaria fazer duas coisas:

 

  1. Imprimir cartazes e distribuir cópias pelo bairro e
  2. Compartilhar na rede social

E foi o que fizemos. Compartilhei nos stories do Instagram e tanto eu como a Thalita, minha esposa, fizemos publicações no facebook pedindo compartilhamento por parte dos amigos. Além disso, no dia seguinte imprimimos vinte cópias de cartazes com a foto do bicho, com informações de onde foi encontrado, características do dog e o meu contato, assim como do amigo que o abrigou de forma que não teria como não encontrarem o dog, até então sem nome. Colamos os cartazes em lotérica, pet shops, papelaria, padaria, ponto de ônibus e até lixeira de rua!

O feriado foi quarta. Passou quinta e nem sinal dos donos.

Sexta e nada.

Sábado eu busquei o dog na casa do Deley. Ele foi apelidado de Bob! Já estava bem amigado com ele e foi legal vê-lo animado, levemente despreocupado. Fomos numa pet shop para verificar a existência de chip de identificação.  Nada também. Aliás, se você tem cachorro, é uma ótima implantar o chip de identificação subcutânea, além da coleira. É como um código de barras com os dados do cachorro, do dono, telefone e endereço. Mas nada também e o sábado terminou meio triste: “será que não vamos encontrar seus donos, Bob-dog?”

Eis que domingo depois do almoço recebo uma ligação do amigo Deley dizendo que tinham encontrado os donos. A dona também publicou um anúncio de cão desaparecido no face e uma moradora da região viu a placa (não sei se na pet-shop ou na papelaria, mas a real é que não importa). A minha primeira reação foi de ceticismo, mas quando cheguei na casa do Deley o Bob tinha nome, era Iron! E ele respondia ao nome mesmo! Mega apegado aos donos! O Iron tinha família, com quatro crianças que estavam desesperadas com a sua ausência. Final feliz para a história do Iron!

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O aviso de cão desaparecido e a foto da placa que espalhamos na rua

E é assim que eu volto ao facebook depois de mais de um ano de ausência deliberada. Em poucos minutos descobri as coisas novas na rede: grupos de compra e venda – que funcionam! Descobri que os stories do Insta aparecem também no face (pasmem, eu não sabia). Já o facebook por sua vez não descobriu nada sobre a minha vida no último ano. Só os amigos que me ligam ou saem para almoçar, tomar umas cervejas, correr, em suma:  viver de fato.

A minha conclusão é que apesar de tudo a rede pode sim ser um mecanismo para aproximar as pessoas. Eu ajudei uma família a reencontrar um membro perdido. Tem gente que se desapega de coisas que outras pessoas precisam e ainda movimentam a economia informal. É a sociedade fazendo uso da rede para o que realmente importa.

A volta às redes já me fez acordar hoje e colocar nos stories a minha corrida matinal. Pronto, depois dessa movimentação da pubicação do blog e o story matinal a rede já deve ter me enquadrado nos hashtags #petfriendly #sports #running #petrescue.

 

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